A
homofobia (aversão a homossexuais) passa, sim, pelo que se considera
socialmente masculino e feminino, mas, ao contrário do que se pensa, não
por "culpa" dos efeminados.
Embora os corpos do homem e da mulher sejam naturalmente diferentes, os
papéis sociais atribuídos aos sexos não têm nada de natural. Os
atributos femininos da docilidade, do recato, da sensualidade, ete...
São construtos socioculturais, ensinados e aprendidos. O mesmo acontece
com atributos masculinos - e, emboras todas as culturas estabeleçam
diferenças entre homens e mulheres, há muitas dessemelhanças entre o que
uma considera masculino e aoutra, feminino.
Também são construtos as reçlações entre os dois conceitos, o que faz eco ao etatus dos comportamentos homossexuais. No livro Homossexualidade: uma história (Record,
1996), Colin Spencer observa que, nas culturas em que homens e mulheres
têm papéis estritos e bem determinados, com a mulher numa posição
inferior, há mais restrições às relações entre iguais - ou elas são
vividas de forma ritualizada. Já quando a mulher tem mais poder e as
relações de gênero são mais fluidas, há mais aceitação das relações
homossexuais e até das travestilidades.
Isso ajuda a entender a questão dos efeminados. A cultura ocidental e
cristã aceita pouco a fluidez dos papéis de gênero e atribui à mulher um
status inferior. O hmossexual é identificado como um "homem com
papel feminino" e, por isso um homem inferior. O s efeminados, por sua
vez, são os "inferiores" mais evidentes.
Embora as características femininas que assumem sejam também
construções, os efeminados, entretanto, têm pontencial questionador: o
de demonstrar que tais características são tão artificiais que podem ser
incorporadas por um homem. Desmacaram a pretensa "natureza" pela qual a
sociedade se justifica e podem apontar para a possibilidade de serem
criados novos modelos, mais justos e democráticos.
Nesse sentido, os gays másculos que o criticam apenas por serem
efeminados - e, afinal, o que é exatamente ser efeminado? - podem estar
desempenhando um papel conformista e até antigay, diante da lógica
explicada há pouco.
No entanto, gays másculos também podem ser questionadores, à medida que
mostram que o papel de "homem másculo" que inexoravelmente inclui a
heterossexualidade, é também artificial, pois é possível ser másculo - e
gay.
Por João Marinho
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