Exagero à parte, desde que o mundo é mundo, as cartas foram o mais vivoe fiel instrumento de comunicação entre os povos. Assim, por exemplo, a Bíblia, o livro mais lido em todos os tempos, está repletas de cartas, aliás, antológicas, escritas por São Paulo aos Coríntios e aos Efésios, levando a palavra de Deus e a filosofia do cristianismo.
Na outra ponta do enfoque, elas, as cartas, fizeram história. No Brasil, por exemplo, a verdadeira certidão de nascimento de nosso país é a carta de Pero Vaz de Caminha dirigida ao rei de Portugal, comunicando "que aqui, em se plantando, tudo dá".
Depois - se recordam muitos - quando a Força do Eixo - Itália, Japão e Alemanha - ameaçavam a liberdade em todo o planeta, Franklin Delano Roosevelt, presidente norte-americano, escreveu uma carta a Josef Stalin, primeiro-ministro russo, advertindo que "se não tivermos a coragem de sepultarmos o passado, corremos o risco de perdermos o futuro".
Na cena política brasileira, duas cartas fizeram história: a carta-testamento de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de1954, e a carta-renúncia de Jânio Quadros, no dia 25 de agosto de 1961. No dia do suicídio, Vargas assinalou: "Saio da vida para entrar na História". Por sua vez, Jânio Quadros, no seu estilo histriônico, alegava que "forças ocultas tramavam contra o meu governo". No universo epistolar, é bom não esqucer as cartas de amor, com juras de afeição eterna.
O estafeta, isto é, o carteiro, era o mensageiro da "boa nova sentimental", trazendo notícias da paixão, que era alimentada, à distância, pela presença nostálgica da correspondência.
Depois, o cancioneiro popular brasileiro exaltou a força amorosa das cartas, quando musicalizou sublime "Vai, cartinha fechada, não deixa ninguém te abrir, naquela casa caiada onde mora a letra I".
Lamentavelmente, nostálgico leitor, a saudosa leitora, a cibernética e seus tentáculos mataram as cartas de amor, monumentos afetivos que são, hoje, apenas, "pedacinhos coloridos de saudade".
PAULO GADELHA, DESEMBARGADOR FEDERAL DO TRE DA 5ª REGIÃO.
ARTIGO DE OPINIÃO - DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 08 DE JULHO DE 2012.
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