segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

DICAS DE PORTUGUÊS

MÍDIAS CONVERGENTES? QUE BICHO É ESSE?

 É mídias convergentes pra lá, mídias convergente pra cá. Os suplementos de informática não se cansam de falar no assunto. Debates calorosos incendeiam universitários e professores de comunicação. Os Diários Associados puseram lenha na fogueira.
  Lançaram o Manual de redação e estilo para mídias convergentes. "Que bicho é esse?", perguntam leitores curiosos. O manual dos Diários Associados ajuda a resposta. A questão tem tudo a ver com a internet. A rede de computadores se parece com aquelas bonecas russas metidas uma dentro das outras. Conhece? A grande mãe é a web. Nela há  tudo - jornais, blogues, sites, portais, livros, revistas, enciclopédias, rádios, tevês, fotos, filmes, musicas. A matriarca virou o mundo da escrita  e da leitura pelo avesso.
  Quem escreve tem de ter em mente que  texto pode ter destinos muito diferentes e originais.
  Redações escolares, provas de concursos, sentenças judiciais, artigos de jornal, discursos políticos, publicações do Diário Oficial - tudo alça voo. Podem ser lidos por um locutor e virar podcasts. Podem ser postados na internet. Podem ser vertidos automaticamente para outra línguas graças ao Google Tranlator. Eis o desafio: a linguagem original tem de estar alerta à nova realidade.


ADMIRÁVEL CRIATURA NOVA

  A relação autor-leitor se divide em dois tempos - antes e depois da internet. Antes da internet, o autor era o dono e senhor do texto. Definia a introdução, as trilhas do desenvolvimento, a hora da conclusão. O leitor recebia o prato pronto. Ou o consumia. Ou o deixava de de lado. Nada mais podia fazer contra a ditadura da linealidade imposta pela página escrita.
  Depois da internet, a história mudou de enredo. A ordem perdeu o rumo. O caminhar em linha reta deu vez ao navegar. Imprevisiblidade é a tõnica. Trechos de texto se intercalam com referências a outras páginas. Um clicar muda a sequência, o código, o enfoque. O leitor assume o protagonismo. Escolhe o que ler, quando ler, por onde começar, onde interromper, em que hora parar.
  A planura da folha de papel cedeu o lugar a espaço plural. Ali o internauta tem acesso simultâneo a textos, imagens, vídeos, sons, animação. Mais: pode brincar com eles.
  Modifica-os, reorganiza-os, interage com um, dois ou todos. Em suam: rege os elementos da comunicação. Tanto poder gerou uma admirável criatura. Conhecê-la é preciso. Dá senhora ajuda a quem quer escrever para ser lido.

O INTERNAUTA É...

  Infiel: não comparece diariamente nem deixa de borboletear de site em site, de blogue em blogue. Inconstante: passa pelo site, mas não o lê com assiduidade.
  Proativo: busca mais informações em vez de aceitar passivamente o que lhe é oferecido.
  Arisco: não se deixa agarrar com facilidade.
  Receptivo: aprecia estilos não convencionais porque tropeça em muitas mesmices.
  Crítico: gosta de comentar a matéria. Elogia, desqualifica, faz sugestões.
  Exigente: quer ser ouvido, seja com publicação do comentário, seja com a resposta rápida à pergunta que formula.
  Visual:  A matéria tem de caber na tela do computador.
  Multimídia: não aprecia notícias com cara das lidas no jornal. Além de textos e imagens, exige vídeos, áudios, animação. Nada de prato feito. Ele escolhe a ordem.
  Apressado: falta-lhe tempo para abancar o universo sem fim da web. Lê o texto em T- primeiro título. Depois, as primeiras palavras do 1º parágrafo. Se quiser, prossegue. Só chega ao fim se lhe interessar.

EM BOM PORTUGUÊS

  As mídias eletrônicas viraram pelo avesso a função do autor-escritor e a do usuário-leitor. Adeus, posse e autoria de texto fisicamenteilhado. Adeus, significado único e hierarquicamente superior aos comentários e notas que dizem respeito a ele. Adeus, poder absoluto.

RECADO

  "O verdadeiro escritor nada tem a dizer. O que ele tem é apenas uma maneira de dizê-lo."
Alain Robbie-Gillet
DICAS DE PORTUGUÊS, Dad Squarisi. Caderno Ciadades. Diário de Pernambuco. 05/02/12.

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